Coluna da terça-feira
Postado por Magno Martins às 06:00
Direto de Brasília
Desde ontem em Brasília, onde atuei por 15 anos, acompanho a retomada dos trabalhos do Congresso ao longo desta semana. Com o recesso de dezembro e janeiro, incluindo o período de Carnaval pelo meio, o noticiário da crise foi jogado na geladeira. Agora, tem tudo para explodir. E a semana já começou quente, com a tentativa do presidente da Câmara, Eduardo Cunha, em dar uma rasteira nos que lideram o movimento pela sua cassação.
Regimentalista como poucos da Casa, descobriu uma nova manobra para retardar o andamento do seu processo de degola na Comissão de Ética. O Congresso inicia suas atividades colocando em discussão também o andamento do impeachment da presidente Dilma, que perdeu fôlego não apenas pelo recesso parlamentar, mas também pela leitura do Supremo Tribunal Federal, que tirou poderes da Câmara e reforçou que, neste processo, a palavra final cabe ao Senado.
Os olhos do País se voltam para Brasília, igualmente, para acompanhar os desdobramentos dos depoimentos do ex-presidente Lula, convocado para dar explicações em três inquéritos já instalados. Amanhã, ele e sua esposa, a ex-primeira dama Marise, depõem sobre o caso do tríplex do Guarujá, onde a família é acusada de ocultação do bem junto à Receita Federal.
Brasília também assiste esta semana ao start da maior troca de partidos dos últimos anos com a promulgação da chamada “janela da infidelidade”, provavelmente na próxima quinta-feira. Assinada pelo presidente do Congresso, Renan Calheiros (PMDB-AL), a brecha na legislação eleitoral permite que deputados possam mudar de partido num prazo de 30 dias, para concorrer às eleições municipais.
Com isso, a previsão é que, de imediato, 80 deputados federais e uma penca de deputados estaduais troquem de legenda, além de 20 senadores. No caso destes, como se tratam de eleitos em pleitos majoritários, não se beneficiam com a medida, porque já têm o direito e a liberdade de mudar de lado a hora que julgar mais conveniente.
RÉU– Eduardo Cunha sofreu uma derrota no final da tarde de ontem: o ministro Teori Zavascki, do Supremo decidiu derrubar o sigilo da denúncia contra ele, apresentada em agosto do ano passado pela Procuradoria Geral da República. As peças haviam sido retiradas do acesso público em outubro do ano passado por causa da adição de depoimentos que ainda estavam sob segredo à época: do lobista Fernando Baiano e do empresário Julio Camargo, que reforçaram as suspeitas contra Cunha. Caberá a Teori agora preparar um voto e levar o caso ao plenário do STF, que decidirá se aceita ou não a denúncia. Se aceita, Cunha passa a responder como réu numa ação penal.
Lula ameaça com dupla surra –
Se o PSB não tiver candidato próprio a prefeito em Jaboatão, conforme é dado como certo nos corredores do Palácio das Princesas, o deputado Lula Cabral, que disputará a Prefeitura do Cabo pela legenda socialista, já decidiu que no município vizinho subirá no palanque do candidato do PR, Anderson Ferreira. O que move Lula é o desejo de dar uma dupla surra eleitoral na família Gomes – no Cabo, contra Betinho, e em Jaboatão, onde Andersom ameaça o projeto do prefeito Elias Gomes (PSDB) de se perpetuar no poder por ser visto, desde já, como a grande surpresa eleitoral.
Perseguição e gastança – Por falar no prefeito de Jaboatão, que ganhou o apelido de “Pombo de igreja” – aquele que faz cocô na cabeça dos fiéis - o tucano ameaça demitir mais servidores sem estabilização. Alega que não está conseguindo fechar as contas. E como explicar gastos da ordem de R$ 10 milhões para os próximos meses em mídia? A projeção publicitária está publicada no Diário Oficial. Pombo de Igreja deveria ter mais respeito aos pobres barnabés. Do contrário, vai faltar óleo de peroba para passar na sua cara de pau.
Zerando o jogo – A bancada pernambucana na Câmara Federal está atônita com a capacidade do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), de sobreviver ao tiroteio. Ao chegar em Brasília, ontem, para o início das atividades do Congresso, o deputado Jorge Corte Real (PTB) procurou se informar de imediato como Cunha conseguiu zerar o processo de abertura do seu processo de cassação no Conselho de Ética da Câmara. “Ele (Cunha) é um regimentalista nato”, dizia Real, estupefato com o noticiário.
Na corda bamba –
O líder do Governo na Assembleia, Waldemar Borges (PSB), nega que o secretário estadual de Defesa, Alessandro Carvalho, esteja fervendo no tacho de frituras do Palácio das Princesas. “O secretário está fazendo um bom trabalho e uma prova disso é que conseguiu reduzir o número de homicídios no Carnaval”, disse o parlamentar. Borges tenta tapar o sol com a peneira. Já se fala até em dois nomes para substituir Carvalho: o ex-secretário Servilho Paiva e o promotor Paulo Augusto, da Comarca de Caruaru.
CURTAS
MISSA– A família Lyra, à frente o ex-governador João Lyra Neto (PSB), participou em peso, domingo passado, em Olinda, da missa pela passagem do terceiro ano da morte do ex-ministro Fernando Lyra. Ministro da Justiça no Governo Sarney, Fernando Lyra foi um dos principais articuladores da candidatura de Tancredo Neves a presidente da República no colégio eleitoral, em 1984.
SANTO? – Como o PT não se atreve a defender Lula, o vice-líder do Governo na Câmara dos Deputados, Sílvio Costa (PTdoB), usa a tribuna, hoje, durante o grande expediente, para fazer um discurso contra o que chama de “campanha dirigida” da mídia para fragilizar o ex-presidente como candidato ao Planalto nas eleições de 2018. Costa vai dizer que Lula é um santo.
Perguntar não ofende: Licenciado do Governo para votar na eleição do líder do PMDB na Câmara, o ministro da Saúde, o atabalhoado Marcelo Castro, deveria voltar ao cargo?